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Decifrando a Linguagem Canina: Uma Análise Comportamental Detalhada

Por mais de quatro décadas de atendimento clinico e cirúrgico de cães e gatos, pude observar um universo comportamental canino enorme, embora fascinante para tutores e etólogos, frequentemente suscita dúvidas sobre as motivações por trás de gestos e posturas. A observação atenta, aliada ao conhecimento técnico, revela nuances importantes na comunicação desses animais, que sempre mereceram estudo minucioso e detalhado, pois muitas vezes alteração comportamental pode direcionar o Médico veterinário não para um diagnóstico preciso, mas pelo menos para um estudo mais focado. 

Um comportamento comum dos cães que sempre é questionado nas consultas, o ato de circular antes de se deitar, possui explicações etológicas multifacetadas. Uma hipótese remonta aos ancestrais selvagens dos cães, que, ao pisotearem a vegetação, criavam um leito mais confortável e seguro para repouso, além de inspecionarem o entorno em busca de potenciais ameaças. Outra perspectiva sugere que essa rotação auxilia no alinhamento térmico do corpo com o ambiente e na ativação proprioceptiva, preparando a musculatura para o descanso. 

O movimento caudal, popularmente conhecido como abanar da cauda, longe de ser um indicador univoco de felicidade, expressa uma gama de estados emocionais. A amplitude e a frequência da oscilação, bem como a altura em que a cauda é mantida, são elementos cruciais na interpretação. Um abanar amplo e solto geralmente denota excitação positiva, enquanto movimentos curtos e tensos podem indicar apreensão ou alerta. A posição da cauda também é informativa: uma cauda mais alta pode sinalizar dominância ou excitação, enquanto uma cauda baixa ou entre as pernas sugere submissão, medo ou ansiedade.

 A postura com orelhas eretas e olhar lateralizado configura um estado de vigilância atenta. As orelhas, direcionáveis como radares biológicos, captam sons com precisão, enquanto o olhar de lado permite ao cão monitorar o ambiente sem fixar o olhar diretamente em um potencial estimulo, o que poderia ser interpretado como um desafio. Essa postura demonstra um alto grau de processamento sensorial e pode preceder diferentes ações, desde a simples observação curiosa até o alerta para uma possível ameaça. 

O comportamento premonitório ao ataque envolve uma sequência de sinais que, quando identificados precocemente, podem evitar a agressão. Caracteriza-se por tensão muscular generalizada, pilereção (pelos eriçados, especialmente no dorso), rosnados, mostra dos dentes, lábios retraídos e um olhar fixo e direto. A postura corporal tende a ser rígida e o peso pode ser deslocado para a frente. É crucial ressaltar que o ataque é geralmente o último recurso na comunicação canina, precedido por tentativas de apaziguamento ou afastamento. 

É de suma importância que tutores estejam atentos a mudanças súbitas ou graduais no padrão comportamental de seus cães. Alterações no apetite, nos padrões de sono, na interação social, na vocalização excessiva ou na manifestação de comportamentos incomuns podem ser indicativos de desconforto físico, dor, ansiedade, estresse ou outras condições médicas subjacentes. Nesses casos, a consulta veterinária é imprescindível. O médico veterinário, através de uma avaliação clínica completa e, se necessário, exames complementares, poderá diagnosticar a causa da alteração comportamental e instituir o tratamento adequado, que pode envolver abordagens farmacológicas e/ou comportamentais, muitas vezes com o auxilio de um profissional especializado em comportamento canino (etólogo ou adestrador comportamentalista). A intervenção precoce maximiza as chances de resolução do problema e garante o bem-estar do animal. Faça consultas regulares com o Médico Veterinário e anote as alterações comportamentais, até mesmo as pequenas, são sempre sinais importantes para uma avaliação profissional. 

 

Magda Izidio de Souza 

Médica Veterinária 

CRMV-SP 2703

 

 

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