Ao longo de quatro décadas, pude acompanhar uma mudança de conduta dos tutores em relação aos seus cães e gatos, principalmente no que se refere a alimentação. A ração foi uma crescente de melhoria na alimentação e uma diminuição de restos de comidas a serem ofertadas aos nossos pequenos pets.

Entretanto, ainda há uma prática aparentemente inofensiva de oferecer ossos aos cães, comum em muitos lares brasileiros, pode representar sérios riscos à saúde dos animais. Embora enraizada na cultura popular como um agrado natural, a ingestão de ossos especialmente os cozidos pode causar desde simples desconfortos gastrointestinais até emergências médicas com risco de óbito.

É necessário enfatizar de forma categórica, principalmente os cozidos, podem fragmentar–se com facilidade e provocar perfurações no trato gastrointestinal. Ao mastigar ossos cozidos, o cão pode gerar lascas afiadas, que funcionam como lâminas dentro do organismo.

As principais complicações associadas à ingestão de ossos incluem fraturas dentárias, porque ossos duros podem quebrar dentes caninos, exigindo extrações ou tratamentos endodônticos. A obstrução esofagica ou intestinal ocorrem porque os fragmentos ósseos podem se alojar ao longo do trato digestivo, impedindo a passagem de alimentos e fezes. A perfuração gastrointestinal certamente é uma das situações mais graves, pode levar à peritonite, um quadro infeccioso de alta letalidade, além disso, ocorre também a constipação severa (fecaloma, pois os fragmentos ósseos se acumulam no reto, formando massas endurecidas dificeis de eliminar.

A avaliação do paciente com possibilidade de complicações devido a ingestão de ossos é essencial. Os principais sintomas incluem vômitos ou tentativas de vomitar sem sucesso, salivação excessiva, apatia e recusa alimentar, presença de sangue nas fezes ou vômito, distensão abdominal, esforço exagerado para defecar, com ou sem sucesso. Os tutores que necessitam de muita atenção com seus pets e normalmente fundamental quanto a agilidade. Não se deve adotar uma postura de espera quando se suspeita da ingestão de ossos. Muitos quadros evoluem rapidamente e o tempo pode ser determinante para a sobrevida do animal. Diante da suspeita, a recomendação é encaminhar o animal a um médico veterinário o mais rápido possível. O diagnóstico costuma envolver exames de imagem, como radiografias abdominais simples ou contrastadas, e ultrassonografias. Em alguns casos, endoscopias podem ser indicadas para visualização direta do trato gastrointestinal e possível retirada dos fragmentos. A conduta para tratar o animal será decorrente de gravidade do caso.

O tratamento depende da gravidade do quadro, onde os casos leves, será conduzido com observação clínica, hidratação, uso de laxantes ou dietas específicas que envolvem fibras para auxiliar na eliminação dos fragmentos, entretanto, as obstruções moderadas a graves, já são indicativas de intervenção cirúrgica para remoção dos ossos. E por fim, as perfurações já são conduzidas como cirurgias de emergência, acompanhadas de antibioticoterapia intensiva.

Por isso, há uma forte recomendação que ossos, especialmente os de galinha, porco ou carne bovina cozidos, devem ser totalmente evitados. Em contrapartida, existem alternativas seguras para satisfazer o instinto de mastigação dos cães, como brinquedos específicos de borracha, petiscos naturais desidratados e ossos recreativos industrializados supervisionados por veterinários. Infelizmente há um mito em acreditar que cães precisam de ossos para limpar os dentes ou fortalecer a mandibula. Embora a imagem de um cão roendo um osso seja romantizada em desenhos animados e filmes, a realidade clínica revela que essa prática é altamente contraindicada.

Portanto, proteja seus pets não ofertando ossos a eles, mas em caso acidental de ingestão, leve-o imediatamente ao atendimento veterinário, muitas vezes o tempo de atenção e diagnóstico pelo Veterinário, poderá ser decisivo para a vida de seu animal.

Magda Izidio de Souza

Médica Veterinária –

CRMV-SP 2703